Kings Club, 60 anos hoje
Hoje (24/10), se estivesse ainda em atividade, o Kings Club de Tapera (RS) estaria completado 60 anos. Mesmo não estando ativo a equipe ainda permanece viva na memória de grande parte dos taperenses que torciam por ele.
O Kings nasceu no dia 24 de outubro de 1964, fundado por um grupo de jovens estudantes, hoje, avós espalhados por Tapera, o Estado e o País, tendo alguns já falecidos.
A equipe foi criada para participar dos tradicionais Jogos de Verão, evento esportivo que reunia a juventude da região na disputa de vôlei, o esporte do momento, e ainda fazer novos amigos, manter os antigos e até mesmo paquerar os brotos. E entre as equipes que disputavam os tais Jogos, sendo cada ano numa cidade, destacavam-se o Pau D’água (Ibirubá), o Pinheiros (Carazinho), o Tequila (Espumoso), entre outros. O KC participava ainda de bailes de carnaval e festivais do chope no Clube Aliança e de muitas outras promoções na cidade e região.
O encontro da turma da região acontecia na Boate Diana, que funcionava naquela peça anexa ao Café Diana, onde está hoje a loja da Lúcia Sattler, com as reuniões-dançantes sendo animadas por eletrola que tocava discos de vinil, regadas a cuba-libre, e às vezes com o Brasa 6.
A primeira diretoria do Kings Club, eleita em 1964, foi a seguinte: presidente – João MÁRIO Kloeckner, vice-presidente – João Cézar Dariva (BOCA), secretário – PAULODIR Zanette e tesoureiro – Luiz Paulo Di Domenico (KIKO), que mais tarde viria a fundar a rival Agrotap.
A primeira sede da equipe funcionou numa casa de madeira que ficava mais ou menos onde está hoje o Banrisul, e que por muitos anos abrigou a Delegacia de Polícia do município, além de residência de algumas famílias. Lá, os jovens se reuniam para fazer as suas festas, com o pessoal pagando pela bebida e a comida consumida. Como fazem hoje os grupos.
O Kings Club começou jogando vôlei e, na segunda metade dos anos de 1970, começou a disputar futsal, esporte que chegava de Porto Alegre, nascido no Uruguai, pela Associação Cristã de Moços (ACM), e que estava se espalhando pelo Estado. Tapera, depois de Carazinho, foi precursora do esporte no Alto Jacuí. Aliás, falando em futsal, um grupo de taperenses que estudava na capital trouxe para o município o esporte que era jogado com pouca gente, em um “campo” pequeno, com uma bola pequena e pesada e com chuteiras sem travas. Esses jogos aconteciam numa quadra asfaltada localizada nos fundos do então Ginásio Taperense, atual Escola Dionísio Lothário Chassot.
Desta quadra eu lembro que, quando essa turma, entre os quais o Dr. Beto Henrich, meu padrinho de batismo, vinha de Porto Alegre onde estudava, ela se reunia nela para jogar futsal. Eu cansei de ir lá e ficar admirando aquele estranho futebol. E mal sabia eu que aquele esporte viraria a ser uma febre nacional e também o meu esporte preferido.
Na foto, com os fundadores do Kings Club na quadra do antigo Ginásio Taperense, é possível ver atrás alguns pés de eucalipto onde hoje está o Ginásio Poliesportivo, e mais adiante um mato que ficava na propriedade dos Mattei.
A maior façanha do Kings Club aconteceu em 1980, quando a sua equipe juvenil se sagrou campeã gaúcha com os jogos acontecendo aqui na região. Em Tapera ficou a chave B com Kings, Sercesa (Carazinho), Ipiranga (Rio Grande) e Teresópolis (Porto Alegre), e em Não-Me-Toque ficou a chave A com Russo Preto, Brilhante (Pelotas), Niterói (Canoas) e Internacional (Porto Alegre). Na fase semifinal estavam Russo Preto e Internacional (A) e Teresópolis e Kings (B). A final foi realizada em Tapera, no Tenarião, entre Kings Club e Teresópolis, e o time taperense levou a melhor vencendo por 3 a 0. O Kings teve ainda o goleador (Buia) e o goleiro menos vazado (Laércio Machiavelli).
Em junho de 1981 a equipe foi a São Paulo representar o Rio Grande do Sul na Taça Brasil. A equipe bateu o Promove (MG) por 2 a 0, perdeu para o Banespa (SP) pelos mesmos 2 a 0 e venceu o Círculo Militar (PR) por 2 a 1. As semifinais teriam Banespa e Vila Isabel (RJ) e Kings Club e Hebraica (São Paulo). A Hebraica denunciou o Kings de ter três jogadores com mais de 18 anos e entrou na Justiça paralisando a competição, que jamais foi concluída. E não é só isso. A Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS) não havia inscrito o Kings Club nas finais em São Paulo e a equipe teve de ingressar na Justiça Federal para ter o direito de participar dela.
O time do Kings Club tinha Laércio Machiavelli, Pedrinho Barboza, Mello, Buia e Mico, e na suplência Ademir, Claudir Hartmann, Clóvis Bervian, Fernando Junges, Gilberto Jacoby, Jorge Knob, Verício Seger e Viti. O treinador era João Delmar Maldaner (Banana).
BANDEIRA – Em 1992, com o Kings licenciado, foi lançado um concurso para a escolha de sua bandeira. Eu, com cinco trabalhos inscritos, fui o vencedor. Em uma solenidade realizada no CTG Piazito Gaudério foi apresentada a tal bandeira oficial, toda de cetim nas cores do time (na foto). E esta bandeira após aquele dia jamais foi vista e continua até hoje desparecida. De presente ganhei um troféu, um leão de madeira.
Em 1995, nasceu o América para unir as torcidas de Kings e Agrotap numa só, coisa que jamais se concretizou, pois em Tapera ou se era amarelo e preto ou tricolor.
Mesmo não sendo unanimidade em Tapera, o América fez bonito e história no salonismo gaúcho. Em 1996 e 2013 conquistou a Série Prata, sendo ainda vice-campeão da mesma em 2010 e 2011. Foi também vice-campeão da Copa Lupicínio Rodrigues (2014), tricampeão da Copa Alto Jacuí (2015, 2016 e 2017) e vice-campeão da Copa Alto Jacuí (2018).
Eu sou torcedor do Kings Club e nunca escondi isso. Aliás, nos tempos de Rádio Gazeta, como repórter esportivo, eu cobria os jogos do Kings em casa e fora, e nos clássicos eu penava nas mãos de um grupo de torcedoras da Agrotap que ficava próximo a rede, mexendo comigo o jogo todo. O time da Agrotap sempre foi respeitoso comigo por isso.
E eu fico feliz por ter vivido a maior parte da vida do Kings Club, até a sua despedida das quadras, e até hoje eu lembro do barulho que sua torcida fazia no apertado Tenarião e depois na Afuco. Já no Poliesportivo, o Kings já não tinha mais aquele glamour de outrora, talvez pelo momento que passava o time e o esporte em Tapera. A Agrotap, nascida em 1980, numa dissidência do próprio Kings, parou de jogar antes. O Kings foi mais um pouco e parou. Para sempre, de forma oficial.
Hoje, o Kings Club continua ativo, mas disputando campeonatos municipais e regionais, muito longe daqueles tempos maravilhosos e barulhentos de antes.
E aqui agradeço ao Nadir Crestani, meu tio e um dos fundadores do Kings, que mais uma vez me auxiliou na recuperação de mais uma história de Tapera, com fotos e informações.
Lembro-me de assistir jogos do Kings e do Agrotap na afuco, casa cheia sempre.
Parabéns pela pesquisa Sarico, adoro ler estas histórias de Tapera. Pena que não tive chance de conhecer o Kings nessa época, devia ser emocionante. um abraço.
Parabéns para o eterno freguês da laranja verde e branca.
Parabéns ao Kings, mas a Agrotap em clássico quase sempre levava a melhor.