O homem das histórias partiu

Nesta semana, Tapera (RS) não só perdeu o seu barbeiro mais antigo como perdeu um dos poucos que conheciam a sua história, desde que o município era uma vila até se tornar um, e que viveu a grande parte dela: Lothari Junges, aos 97 anos.

O Seu Lothari começou a sua atividade de barbeiro em 1941, aos 13 anos, no quiosque da praça central de Tapera, onde ficou até 1945. Naquele ano, ele se mudou para o prédio do antigo Cinema Avenida, na Avenida XV de Novembro, ali onde estão a Farmácia Essência e a Loja Andriolli, onde ficou até 1972. Em 1973, ele atravessou a avenida, indo para o outro lado dela, em uma peça da residência do dentista Dionísio Lothário Chassot, o primeiro prefeito do município, onde ficou até 2023, quando encerrou as suas atividades devido a sua saúde e a idade avançada. Ele trabalhou no ofício por 82 anos tendo uma vasta clientela.

O Lothari Junges foi uma das minhas grandes fontes de informações sobre Tapera. Quando surgia um fato ou uma foto eu correia até ele e ele me socorria me dizendo exatamente o que aconteceu, com quem e aonde, sempre muito simpático e solícito. O homem, nonagenário, tinha uma memória ímpar, daquelas que impressiona de verdade pelo conhecimento e riqueza de detalhes. Era uma enciclopédia viva.

Se foi uma das últimas testemunhas vivas de Tapera e o município peca por não ter resgatado partes importantes de sua história quando ele ainda estava vivo. Eu, como uma espécie de historiador, me penalizo profundamente por este não resgate.

O Seu Lothari faleceu no hospital Roque Gonzalez e teve uma morte tranquila, soube. Ele foi velado e sepultado aqui mesmo em Tapera.

Ele era casado com a Melita (falecida) com quem teve quatro filhos: Valdir (Neco), Silvia, João Augusto (Guto) e Simone.

Seu Lothari, muito obrigado por tudo. O senhor foi brilhante.