Blog do Sarico

A tragédia da família Viero


Esta triste história foi testemunhada e registrada em livro pelo médico taperense Anildo Sarturi.

“Um grande impacto emocional aconteceu aqui em Tapera (RS), em 1931, quando ainda era um vilarejo. Eu tinha nove para dez anos de idade e, acredito que este choque tenha acontecido com todos os habitantes de Tapera, pela morte de uma família num incêndio na noite que se transferiram da casa velha para a nova, a tão sonhada morada nova. Era uma família de agricultores, o chefe, primo-irmão de papai, morava cerca de um quilometro do centro do povoado.

Naquele dia, eu tinha acompanhado o viajante comercial Carlos Rotta, de Antônio Prado, que se hospedava regularmente em nosso hotel (Hotel dos Viajantes, o primeiro de Tapera), para ir a Boa Esperança (atual Colorado) e Saldanha Marinho. A viagem foi demorada, mas chegamos em casa bem. Na janta relatamos as peripécias da viagem. Cansado e com sono, acabei indo me deitar e peguei no sono em seguida, até exatamente a meia-noite, quando, de repente, fui acordado pelo badalar dos três sinos do “campanil” da Igreja Matriz, repicando nervosamente dentro da madrugada, fato que acontecia só em casos de incêndio. Juntou-se o apito do Curtume, que não cessava de tocar, logo depois, tiros de revólver e espocar de foguetes. “Mas que será isso?” – indagava-me eu – Ouvindo esse barulho todo, àquela hora, meu avô e eu levantamos da cama sonolentos. Ele riscou um fósforo e acendeu a vela do castiçal de cabeceira, e saímos juntos para saber, na frente do hotel, o que estava acontecendo. De início, eu pensava em incêndio em nosso próprio hotel. Olhava para um lado e outro, mas não via fogo em parte nenhuma. Na frente do hotel passava gente e gritava aflitamente:
– Fogo! Fogo! – gritava alguém.
– É na casa do Antoninho Viero – gritou um passante apressado.
– Está queimando a casa do Antoninho Viero – disse uma quarta pessoa que passava rapidamente pela frente do hotel.

Descalço, tremendo de medo, subi correndo a colina (perto da Escola Dionísio) e dali já se podia ver nitidamente as labaredas que envolviam e devoravam rapidamente a casa nova do Antoninho Viero Sobrinho. Continuei correndo, na expectativa de ver de perto o incêndio e fazer alguma coisa, porém, ao me aproximar, jamais podia imaginar o quadro dantesco que assistia com meus próprios olhos.

Reconheci, no meio das labaredas, o vulto de Antoninho quase carbonizado, uma tocha humana, amparando em seus braços o filhinho de poucos meses, à procura desesperada, com certeza, da janela do sobrado para saltar. Pouco adiante, pude ver quando a armação da casa de madeira veio abaixo e ouvia-se o barulho crepitante do fogo. Junto ao andaime superior, reconheci o corpo gordo e semicarbonizado de Adile, mulher de Antoninho. O corpo ainda pendendo no caibro em brasa, logo veio abaixo. Junto com os pais morreram seis filhos. Oito mortos carbonizados, da mesma família, ficaram irreconhecíveis. Salvaram-se nesta tragédia uma menina de 12 anos, um menino de cinco e outra de quatro; estas três crianças dormiam, naquela noite, no andar térreo do sobrado.

Foi o quadro mais dramático que assisti em toda a minha vida”.

A história contada pelo Dr. Sarturi não fala onde era a casa em questão, mas segundo relatos de pessoas mais antigas, ela deveria ficar próxima à construção localizada em frente ao Ginásio Poliesportivo. Sobre as duas crianças que sobreviveram ao incêndio, familiares não se lembram delas e muito menos se estão vivas.



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