Blog do Sarico

A notícia do incêndio do hospital


Eu recebi do prefeito de Tapera (RS), Osvaldo Henrich Filho, a capa da edição 57, do jornal “Noticioso”, de Carazinho, noticiando o incêndio do Hospital Roque Gonzalez de Tapera, então 3º distrito de Carazinho, ocorrido na madrugada de 10 de março de 1943. Três dias após a sua inauguração.

E a capa, em destaque, trazia como título “INCÊNDIO CRIMINOSO EM TAPERA”.

Às 14h30, do dia 10 de março de 1943, o delegado de polícia Miguel Zacarias, de Carazinho, veio de automóvel para Tapera, acompanhado do inspetor Waldomiro e de dois repórteres do jornal, para dar início às investigações.

Era passado da 01h, quando o seminarista Luiz Hansen, que residia na farmácia do Hospital, que ficava no prédio ao lado deste, acordou com forte cheiro de gasolina ou querosene. Ele foi ver o que era e viu o fogo. Correu para avisar as irmãs que deram o alarme do incêndio, que teria iniciado no pavilhão de festas, que ficava nos fundos e que teria sido usado antes como casa canônica, a residência do padre, que estava desabitada. Ao lado ainda, haviam as residências do farmacêutico Nelson Franz e do casal Fischer, empregados do hospital. Helena Fischer saiu ilesa do local apenas com a roupa do corpo. O fogo consumiu tudo.

As pessoas que estavam na última noite de Carnaval, no Salão Junges, atual Clube Aliança, ao ficarem sabendo do sinistro correram para o hospital para ajudar no combate às chamas e tentar salvar alguns objetos, mas a água era escassa e o trabalho foi dificultado. Tudo foi perdido dando ao hospital um prejuízo de mais de 300 mil cruzeiros, segundo o jornal.

O padre Clemente Kampmann, vigário da paróquia, entrou no prédio e salvou o Santíssimo Sacramento e duas imagens de santos. Foi também salvo por outros o material cirúrgico no valor de 80 mil cruzeiros (Cr$).

Em 10 minutos foi tudo devorado pelas chamas. Felizmente não havia vento pois o fogo poderia ter alcançado o Hotel dos Viajantes, de propriedade de Antônio Sarturi Sobrinho, que ficava próximo e, por consequência, podendo chegar em toda a vila. Em 15 minutos as chamas chagaram a 15 metros de altura, diz a reportagem.

No hospital estavam cinco doentes que foram retirados pelas irmãs de Caridade. Uma das freiras retirou uma criança que estava com uma grave fratura exposta na perna esquerda. O médico Jorge Kalil, diretor do hospital, retirou uma mulher que havia sido operada um dia antes. Outra mulher, que convalescia de grave enfermidade, teve de sair caminhando agravando o seu estado de saúde.

O delegado mandou instaurar inquérito pois haviam fortes indícios de que o incêndio teria sido criminoso e três coisas corroboravam para isso: 1 – Não havia gasolina ou querosene no prédio, 2 – Não havia energia elétrica no mesmo, pois o padre Clemente havia solicitado o seu desligamento para que fosse instalado um dínamo para iluminar o hospital, a casa canônica e a farmácia, e 3 – Nada estava assegurado no prédio.

Dois técnicos do Ministério da Agricultura, José Cabral e Giacomo Reali, vieram a Tapera para periciar o prédio queimado.

O jornal diz ainda que “a pacata população de Tapera não se conformava com a impunidade do autor ou autores, intelectuais ou materiais do ato, e esperava das autoridades policiais enérgicas providências no sentido de serem descobertos os incendiários afim de receberem o necessário corretivo judicial” (ipsis litteris).

O jornal fala ainda que não será difícil provar que o incêndio fora criminoso, praticados pelos inimigos do padre Clemente, pioneiro das boas causas em Tapera.

Algumas pessoas mais antigas, que conhecem a história do município, dizem que o incêndio foi acidental, tendo começado numa casa ou galpão de madeira existente atrás do hospital. E com o vento as labaredas devem ter derrubado uma vela ou lamparina no chão e as chamas sendo levadas em direção do hospital.

O que chama atenção nesta história é a dúvida quanto a casa ou galpão existente atrás do hospital. O jornal diz que havia já alguns mais antigos que ainda estão por aí dizem o contrário. Outra coisa. A matéria diz que não havia vento naquela noite e o pessoal diz que havia. Um taperense me disse que acha que alguém estava dormindo no local e fazia uso de uma vela para iluminá-lo e, com o forte vento, a vela deve ter caído dando início ao fogo.

Naquela Tapera havia muita rivalidade por conta da política e ela envolvia tudo e todos em todos os setores e isso perdurou por anos por aqui. Muitas famílias se dividiram por conta da “escolha” do lado optado.

Enfim, até hoje não se sabe se o incêndio no Hospital Roque Gonzalez foi acidental ou criminoso e, no caso, quem foi o autor e a mando de quem. O pessoal fala em crime, mas a boca pequena, e nunca houve investigação e nem o resultado da perícia deste caso acontecido em há 81 anos.

Em tempo. O padre Clemente Kampmann liderou a construção do Hospital e da Igreja Matriz, e foi uma figura bastante polêmica aqui em Tapera, que dividiu os moradores do povoado. Quem quiser saber mais sobre ele deve acessar: https://www.blogdosarico.com/2022/06/08/a-historia-da-igreja-catolica-em-tapera/#google_vignette



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Responder Anônimo (1713792313108-714835) Cancelar resposta


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