Blog do Sarico

Aqueles carnavais de Tapera…


Hoje, sexta-feira, há alguns anos atrás, começava o Carnaval em Tapera e em alguns municípios da região. O pessoal se preparava meses antes para tratar da escolha da fantasia e depois confeccioná-la e aguardar o tão esperado dia para se jogar de corpo e alma no salão de festas do Clube Aliança, que teve os melhores carnavais de toda a região nos anos de 1970 e 1980.

Segundo os mais antigos, os carnavais do Salão Junges, atual Clube Aliança, nos anos de 1940 e 1950, eram realizados sem fantasias nem blocos. Os casais caprichavam na vestimenta e iam ao salão dançar e os solteiros(as) ia para o baile na esperança de ver ou rever alguém especial. Uma coisa no Carnaval nunca mudou; a dança em círculo no salão e o trenzinho.

No final dos anos 1950, com o Clube Aliança já instalado, de madeira, o pessoal começou a usar fantasias de palhaços, homens vestidos de mulher, entre outros.

Nos anos de 1970 é que começaram os blocos e as fantasias em Tapera. E tudo começou com o Sacks Block (foto), o bloco do saco, cujos integrantes se fantasiavam com sacos. Mais tarde, passaram a se fantasiar como árabes, com panos comprados na Casa Paulista ou Paulistana, do turco, que na verdade era libanês, Abdes Samie Musa Dawud Ismail, que ficava ali onde está hoje a Loja Girassol, na Rua Guido Mombelli.

O pessoal se reunia um mês antes para se organizar e ver sobre a fantasia, onde comprar o pano, os custos de tecido e da costureira e a concentração. Depois disso tudo era só esperar pela sexta, sábado, domingo e segunda-feira para cair na folia até o sol raiar. Muitas vezes o pessoal rumava até a Padaria Petter, que ainda está aí, na Rua Almirante Barroso, para tomar café reforçado, e também na Padaria Sattler, que ficava ali onde está hoje o Centro de Tintas, e só depois ia embora. Isso quando o pessoal não acabava dormindo pela cidade para desespero das pessoas que iam para a missa no domingo.

Muita gente trabalhava na segunda, mas não perdia a noite de domingo. Tinha gente que não dormia indo direto para o trabalho e aquele dia demorava para passar… Ao chegar em casa à noite, “morto” de cansado, a gente ia direto para a cama dormir um pouco. Depois de umas horas, levantava, comia algo e rumava para a concentração para então aproveitar a última noite de folia. Descansar, só na terça-feira. E no final da semana seguinte havia o “enterro dos ossos”, para fechar o ano com chave de ouro. Haja saúde (e fôlego) para tanta festa e folia.

Eu comecei cedo no Carnaval, não lembro bem o ano, pelas mãos do meu irmão, Vitor, que integrava o Sacks Block junto com a turma dele. E, aos poucos os irmãos e irmãs destes foram entrando no bloco e aquilo foi crescendo ano após ano. O Sacks fez história em Tapera.

O Clube Aliança promovia quatro bailes adultos e um infantil, no domingo à tarde, e para cá vinha gente de toda a região que lotava o salão que não dava para caminhar nem pular de tanta gente que havia. Ir até a copa ou ao banheiro era uma epopeia.

Uma das melhores fases do Carnaval de Tapera foi quando o Renato Pletsch assumiu o Clube Aliança. Ele e sua equipe impulsionaram a festa fazendo dela a maior e melhor da região. O Renato queria povo no CA e preparava ele de acordo com decoração, boa música e regalo aos blocos (bebida). Depois dele outros deram sequência ao trabalho, melhorando-o.

Alguns anos depois o Carnaval chegou ao Tenarião, para quem não era sócio do Clube pudesse ter, pelo menos uma noite, de folia. Nisso começaram os carnavais de rua onde os blocos locais e de fora desfilavam pela avenida, em frente à praça central e depois todos rumavam para seu baile, no Clube ou no Tenarião.

Haviam ainda os concursos de fantasia, adulto e infantil. No adulto, era quase impossível vencer os geniais Claudio Steffens e Clovis Gengnagel pelas suas criações (luxo e beleza) e a Letícia Kuhn, cujas fantasias eram assinadas pelo seu tio, o também genial Evandro Kuhn. Os demais blocos também caprichavam na sua.

Nos anos 1970, tivemos o Carnaval D’água, na Avenida XV de Novembro, em frente ao Clube Aliança e a Loja Maldaner, onde hoje está a Farmácia São João. O pessoal se concentrava ali com piscinas plásticas e lonas cheias de água e com balde, caneco e outros jogava água em quem passasse pelo lugar, a pé ou motorizado. Quem não queria se molhar passava com os vidros do carro fechados. Os desavisados eram molhados. A brincadeira não durou muito tempo. Um dia, a galera estava apostos e passou uma senhora com o vidro do carro aberto e alguém jogou água nela. A madame parou o carro, desceu e encheu o pessoal de desaforo. Nunca mais se teve Carnaval D’água em Tapera.

Lembro que o bloco Kaxkalho, que eu integrei, se reunia no domingo na propriedade dos Maldaner (Giba e Banana), em Lagoa dos Três Cantos, aquecendo as baterias para a terceira noite de folia. Fazíamos um churrasco e após desfile de fantasia. Quem ganhasse era coroado rei e rainha do bloco. E no final do dia o pessoal ia para casa vestir a fantasia do bloco e rumar para a concentração e após para o Clube.

Com o passar dos anos o pessoal foi casando e a família aumentando e com isso a festa momesca foi perdendo fôlego e diminuindo de público e de bailes. Mas, o Carnaval não parou, pois os blocos locais começaram a ir para Espumoso, Ibirubá, Carazinho e Não-Me-Toque. Bem mais tarde para Passo Fundo, Cruz Alta e Ijuí.

Com as novas gerações chegando as músicas e o gosto foram mudando e o Carnaval perdeu a sua essência com o fim das marchinhas até acabar de vez. Alguns clubes da região tentaram reativá-los, sem sucesso. O Carnaval atual encontra espaço apenas nas grandes cidades. Nelas, a festa acontece em clubes e nas ruas e avenidas do Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Olinda, entre outros.

BLOCOS – Tudo começou, com o Sack’s Block, “o bloco dos sujos que não tem fantasia, mas que traz alegria para o povo sambar…”, depois vieram o Unidos do Nosso Bloco, que mais tarde se uniu ao Sacks Block e formaram o Unisacks. Vieram também Maracangalha, Oba Oba, Alegria Alegria, Aliança, Banco do Brasil, Aliança (da velha guarda do Clube), Verde e Branco, Kaxkalho, entre outros. E bem mais tarde, na “finaleira” vieram o Rei do Trago, 100 Futuro, Choppados e Meketrefes.

MARCHINHAS – As marchas que fizeram gerações pular nos clubes: Mamãe eu quero, Allah-la-ô, Me dá um dinheiro aí, Ta-hi, Cabeleira do Zezé, Cachaça não é água, O teu cabelo não nega, Saca-rolha, Mulata iê iê iê, Bandeira Branca, O abre alas que eu quero passar, Turma do funil, Cidade maravilhosa, entre outras.

O Carnaval de Tapera ficou no passado, em nossas memórias, assim como tantas outras coisas, como a Trinity Discoteca, que ficava no Clube Aliança e que fez grande sucesso nos anos 1980. Enfim, na vida, tudo tem um começo meio e fim. E com o Carnaval não foi diferente. Mas, quem viveu aquele tempo hoje conta com saudosismo e até lágrimas para seus filhos e netos como foram aqueles tempos maravilhosos de folia.

Eu posso dizer com muita alegria e satisfação: eu vivi isso tudo.



Comentários

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