O apito do Curtume
Eu acordo muito cedo todo os dias, de madrugada. É um hábito que tenho desde sempre. E numa dessas acordei com o apito do Curtume. Claro, ele não existe mais há muitos anos, mas aquele som que eu ouvi em grande parte da minha vida me veio à cabeça naquele dia. Pois, confuso, demorei para entender aquilo. Claro, era o meu subconsciente em ação.
O pessoal mais antigo, com toda certeza, lembrará do velho apito do Curtume Mombelli, que tocava a vida na cidade, desde que Tapera era distrito de Carazinho, até virar município, em 1955.
O apito, que fora criado para informar os funcionários da empresa a hora para entrar e sair, de manhã e de tarde, entrou na vida dos taperenses e ele era mais esperado do que os sinos e o relógio da Igreja Matriz, que informavam as horas cheias e as “quebradas” (meia hora).
O apito do Curtume era acionado às 07h15, 07h30, 12h, 13h15, 13h30, 17h45 e 18h.
Às 07h15 e 13h15 era o “primeiro” apito que informava os funcionários que o trabalho começaria em 15 minutos. Às 07h30 e 13h30, o “segundo”, informavam que estavam iniciando os trabalhos. O das 17h45 avisava que as atividades estavam para ser encerradas no dia. E os das 12h e 18h informavam que os trabalhos estavam encerrados naquela data.
Muitas pessoas aqui em Tapera, ao longo dos anos, que espicharam o sono além do tempo, devem ter pedido aos seus pais ou esposa(o) se o apito recém tocado era o primeiro ou o segundo. Se era o primeiro a pessoa só tinha tempo de se arrumar. Mas, se era o segundo, teria problema com o chefe do setor.
Todos em Tapera, todos mesmo, baseavam o seu dia a dia pelo apito do Curtume, confiando muito mais nele do que no relógio ou despertador de sua casa.
Bom dia, amigo Fábio. Eu escrevi há um tempo atrás aqui neste seu blog que você viria a falar do apito do curtume. Bom, este dia chegou. Só lhe peço que não volte com a história dos abacates e do relógio do Sicredi.