Blog do Sarico

Antigas regras do futebol da turma


Antigas regras do futebol 1Essa chegou até mim por um grupo no WhatsApp e achei o máximo, pois era bem assim, mesmo. Aí dei uma “melhorada” para ficar mais legal. Quem já foi piá e podia ir para a rua ou nos “campinhos” jogar bola com a turma sabe do que estou falando. Veja aí se você se acha.

Os jogos eram entre bairros e havia ainda os torneios nos “campinhos” de terra, coisa que hoje não existem mais e nem sei se os meninos de agora sabem o que é isso, afinal futebol não faz mais parte da sua vida. E ainda tinha premiação: taça, medalhas ou animais (ovelha ou porco).

As goleiras, na rua, eram feitas com os tênis de alguém, pedras ou outra coisa qualquer. A bola podia ter passado a 20 metros de altura que o chutador e seu time gritavam GOL! Onde já se viu traves com mais de 2,44 metros de altura? Mas, naquele tempo haviam. E elas eram bem altas, mesmo.

Os dois melhores jogadores não podiam estar do mesmo lado, assim eles tiravam par ou ímpar e escolhiam os times. E a escolha era em ordem decrescente: dos melhores aos piores.

Ser o último era a maior humilhação, mas entre amigos tudo estava bem, pois a graça dos ruins era fazer gol e dar “ferro” (drible) no craque do time adversário ou num dos bons deles. E a turma se “encarnava” depois. E quem era ruim não se importava, pois, a ideia era participar, estar junto com a galera. Quem era ruim na bola não se importava com isso pois sabia que era bom em outras coisas.

E novamente no par ou ímpar se escolhia que lado tirava a camisa. Era um com camisa e o outro sem.

O pior de cada time virava goleiro, a não ser que tinha alguém que gostava de atacar. Felizmente, antigamente, havia muitos e bons goleiros por aqui.

Se ninguém aceitava ir para o gol e não havia goleiro, adotava-se um rodízio: a cada gol sofrido era trocado o “guarda-metas”. E o que se dava de “migué”… Uma bola defensável virava uma indefensável e os caras viravam de costas para o lance, tentando proteger o rosto. Todo mundo fazia isso. Será que ali começou o que estamos vendo hoje na política nacional?

Os piores de cada lado ficavam na zaga e os bons jogavam do meio para frente. A consciência tática era bem outra naquela época. Futebol arte, tá ligado?

Quando havia um pênalti contra, saia o goleiro ruim e entrava um bom em seu lugar, só para tentar pegar a cobrança.

O dono da bola jogava no mesmo time do craque, que o escolhia. Era uma “proteção” desgraçada aquilo. E quem era ruim de bola ficava “P” da vida com aquilo, mas o jogo tinha de acontecer.

Não havia juiz e as faltas eram marcadas no “grito”. Se o cara era atingido, gritava como se tivesse quebrado uma perna, e ganhava a falta. E ainda dava um migué dizendo que a lesão era grave. Muita dor…

Lances polêmicos eram resolvidos no grito ou, em último caso, no empurra-empurra. Era o “calor” do jogo.

Se o cara estava no lance e a bola saia pela lateral, cada um gritava “é nossa” e pegava a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança. No escanteio acontecia a mesma coisa. Quem gritava mais alto e pegava a bola antes levava o arremesso.

Lesões, como arrancar a tampa do dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras coisas mais era normal. E quando o cara chegava em casa “quebrado”, mancando ou sangrando a mãe não dizia nada, pois tudo aquilo era absolutamente normal. E diário. Fazia parte da vida de todo mundo.

Quem chutava a bola para longe tinha de ir buscá-la. O diabo era o que havia depois do campo: estrada, morro, potreiro com vaca braba, banhado e rio. E de vez em quando um vizinho brabo.

A partida acabava quando todos estavam cansados, quando anoitecia ou quando a mãe do dono da bola o chamava para ir para casa. “Venha, que tá na hora”. Também, quando alguém se lembrava que, chegando em casa já escuro, apanhava do pai ou da mãe.

Se chovesse ou estava esfriando tinha jogo igual. Chegar em casa todo embarrado era um convite para o “laço”. Roupa suja ou rasgada… Fico até hoje pensando se os pais batiam na gente com vontade ou se era para nos educar, algo que não acontece hoje em dia. O educar.

Podia estar 15 a 0 o jogo, e a partida só acabava com o “quem faz o último ganha”. Era o medo de chegar em casa já escuro. Aí o pessoal esquecia até o placar.

Era ou não era assim? E se você passou por isso saiba que fostes uma criança absolutamente normal. E todos sobrevivemos. Tudo sem leis e sem frescuras. Tempos maravilhosos aqueles que, infelizmente, não voltam mais.

Hoje, tem muita frescura e limite.



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