Blog do Sarico

Rádio: 30 anos em Tapera


Os 30 anos do rádio em Tapera 1Nesta segunda-feira (31), Tapera estará comemorando 30 anos de rádio. Eu, com muito orgulho, faço parte desta história, afinal fui um dos primeiros funcionários da então Rádio Gazeta, tendo ainda passado pelos principais veículos de comunicação do Munícipio.

O meu primeiro contato com o rádio aconteceu numa noite de sábado, novembro de 1981, na saudosa Boate Trinnity, do Clube Aliança, quando conversando com o Osvaldo Henrich Filho, o “Prego”, este me disse que o canal estava liberado e que o grupo vencedor da concorrência começaria a trabalhar no sentido de colocar a emissora no ar o mais breve possível, afinal Tapera tinha pressa de ter a sua emissora de rádio como tinham Espumoso e Ibirubá. O Prego então me convidou para trabalhar nela. Confesso que, aos 20 anos, fiquei muito feliz, afinal iria trabalhar com notícias, algo de que sempre gostei. Apesar de preferir a máquina de escrever, o microfone me encantava.

Na verdade, o rádio em Tapera iniciou no dia 04 de novembro de 1981, quando o então Ministério das Comunicações concedeu o direito de exploração dos serviços radiofônicos no Munícipio para o grupo que tinha os taperenses Arli Luis Henrich e Leonir Setti mais os carazinhenses Iron Albuquerque, que anos mais tarde viria a ser prefeito de Carazinho, já falecido, e Carlos Alberto Baldo. Na mesma semana Osvaldo Henrich Filho comprou a parte carazinhense. A essa altura a emissora era 100% taperense.

A Rádio e Televisão Gazeta de Tapera Ltda entrou no ar, em caráter experimental, no dia 31 de dezembro de 1982, em uma peça anexa ao escritório da então empresa Osvaldo Henrich & Filhos Ltda (OHF), na ERS 223. Lembro que levantava diariamente toda manhã às 04h30min, inclusive finais de semana e feriados, para colocar a emissora no ar às 05h. Primeiramente era preciso ir até o transmissor para ligá-lo. Quando chovia, passar pela invernada que lá existe, era uma missão penosa, pois voltava ao estúdio todo molhado. E após colocar a rádio no ar chegava o Paulo Knob dos Santos, ex-funcionário da OHF, trazendo pastel quente e chimarrão, para ouvir música e conversar. A epopeia de ligar o transmissor Bandeirante, que parecia um armário de três portas, terminou quando a rádio veio para o centro da cidade e o seu acionamento passou a ser por controle remoto. Ficou bom aquilo, mas volta e meia dava problema e era preciso pegar o Fiat 147 – bege, da emissora, para ir até o transmissor para acioná-lo.

A primeira transmissão da Gazeta teve a minha participação. Como operador de áudio, fui junto com o gerente e locutor Leo Utteich para instalar o equipamento – maleta, microfone, cabo e antena – no Salto do Jacuí na inauguração da destilaria da então Gradespe, hoje Grandespe, de propriedade da família Stärlick. Aquela inauguração, num sábado de tarde, foi duplamente marcante para mim. Primeiro, porque foi a primeira transmissão da emissora e eu estava lá junto fazendo história e segundo, porque foi a primeira vez que falei na rádio, além de dar o prefixo e a hora. O Leo precisou dar uma saída e deixou o microfone em cima da maleta de transmissão. Brincando, me pediu para entrevistar o Vitor Marasca, então funcionário da Gradespe e hoje proprietário da Marasca Cereais, empresa conhecida no Brasil inteiro e que iniciou aqui em Tapera. Não teve dúvida peguei o microfone e fui em direção ao Vitor, que estava à minha frente. O que eu pedi a ele eu não lembro, nem o que ele me respondeu. Sei que a entrevista saiu, “torta” mas saiu. Sei também que aquela investida me colocou no “ar” na Gazeta e ali começou a trajetória de um profissional que trabalhou em todas as “pontas” na emissora. Nos 15 anos que fiquei na Gazeta, estive a frente de suas maiores coberturas jornalísticas e esportivas.

Quando dava uma folga ou estava pelo centro, eu dava uma passada na casa onde funcionaria a rádio, afinal ela precisava ser modificada. Não se mexeu em paredes, mas as peças foram alteradas. E lá dentro, de manhã, de tarde e de noite, três pessoas trabalhavam em ritmo alucinado montando a emissora: Sérgio Jacoby, o “Jacó” (taperense, já falecido), e os estrangeiros Bertillo e Bertoldo. Os caras não tinham formação acadêmica nenhuma, mas entendiam tudo de eletrônica e de criação de equipamentos e peças. Os caras eram feras.

A primeira equipe de trabalho da Gazeta, que trabalhou na ERS 223, era formada pelo Leo Utteich (gerente e locutor), Paulo Heck e Marisa Oliveira (locutores) e este jornalista (operador de áudio). Em menos de um ano passei a fazer reportagem nos jogos de futebol e em seguida para os programas jornalísticos. No rádio, posso dizer que já fiz tudo. Trabalhei como repórter dos grandes apresentadores que a emissora teve no seu programa de notícias de todas as manhãs. Atuei com o Leo Utteich, Agenor Rodrigues, Paulo Morais e Egon Zir. Quando o Egon deixou a emissora tive a honra de apresentar, de 1990 a 1997, o então Comando Geral Gazeta, programa que hoje se chama Realidade e é apresentado pelo amigo Marcelo Ricardo Haag. Lembro da música característica do CGG: Concorde, de Franck Pourcel. Quando ela entrava no ar, aquele barulho de um jato se preparando para decolar, confesso que me arrepiava. A Ninha Ficagna, hoje Köpsell, foi minha operadora de áudio naquele período. E ainda hoje quando ouço aquela música me emociono.

No dia 02 de junho de 1983 a emissora se transferiu para a Rua Tiradentes, 16, na esquina com a Avenida XV de Novembro, onde hoje está a Laurindo Motos. E em 04 de junho daquele ano ela entrou no ar, em caráter definitivo. Só eu sei a emoção que foi aquilo naquele dia. E lá estava eu novamente fazendo parte da história, na mesa de áudio, na redação e nas pequenas reportagens.

O nome da emissora deu-se em razão da co-irmã de Carazinho assim chamar-se. Apesar dos taperenses ter comprado a parte carazinhense, foi mantido o nome Gazeta, mas não as cores. Elas passaram do azul e amarelo para azul e vermelho. E nesta mudança entrou em campo a rivalidade Kings Club e Agrotap. Acontece que as cores da rádio – azul e amarelo – pintadas no muro lateral do Mega Lanche, de longe pareciam preto e amarelo, as cores do Kings. Quem era torcedor da Agrotap cobrava aquilo dos proprietários da rádio. Diziam isso porque a direção da emissora era ligada ao Kings Club. Pois, essa rivalidade, coisa que sempre existiu em Tapera, obrigou-os a trocar as cores. Saiu o amarelo e entrou o azul no seu lugar.

Em 1984, o Leonir Setti retirou-se da sociedade entrando em seu lugar Paulo Alberto Simon, o “Bidoco”. Estavam com ele na sociedade os irmãos Arli Henrich e Osvaldo Henrich Filho.

De 1983 a 1997, sete pessoas dirigiram a Rádio Gazeta até a mudança do controle administrativo, em 1997: Leo Utteich, Agenor dos Santos Rodrigues, Paulo Celso Morais da Silva, Sônia Maria Kreling Henrich, Egon Elias Zir, Cláudia Lupatini e este jornalista.

Em 1984, o grupo decidiu instalar um canal de FM (Freqüência Modulada) dirigido à juventude local e regional. Segundo a portaria nº 297/85, de 23 de outubro de 1985, do Ministério das Telecomunicações, Tapera ganhava seu canal de FM (Freqüência Modulada).

No dia 29 de setembro de 1986 entrava no ar a Rádio Stúdio 2 FM. A mesma começou em uma peça anexa à Rádio Gazeta, na Rua Tiradentes, 16. O primeiro gerente da emissora foi Egon Elias Zir e Eliana Teresinha Hennrichs a primeira locutora.

Também trabalhei na Studio, como vendedor. Lá também fui um dos seus primeiros funcionários. E eu nunca falei na Studio.

Em 1º de julho de 1993, o grupo se dividiu. A Gazeta ficou com Paulo Alberto Simon e a Stúdio 2 com Arli Henrich, Osvaldo Henrich Filho e Paulo Celso Moraes da Silva (gerente). A Studio, então, se transferiu para seu atual endereço, na Rua Dom Pedro II.

Em 15 de março de 1997, a Rádio Gazeta foi vendida para a família Stefanello, de Ibirubá, proprietária das rádios Ibirubá AM e Amizade FM. E a partir dali me desliguei do rádio e entrei no jornalismo escrito, pois estava por me formar na universidade e tinha idéia de criar um jornal em Tapera, o Última Hora.

Tenho muitas histórias sobre a Rádio Gazeta e os seus profissionais, sendo algumas marcantes, outras folclóricas e outras ainda de certo modo cabeludas. Eu ainda vou escrever um livro sobre tudo isso.

E o bom de tudo isso foi o aprendizado e a convivência com figuras com uma vida toda ligada ao rádio. A Gazeta para mim foi uma escola, pois nela melhorei minha escrita, fala e leitura e também a perder certos vícios da fala, escrita e leitura que a gente tem e não percebe. Quando a gente errava era corrigido no mesmo instante, sem qualquer estresse. Depois, automaticamente a gente se policiava e ficava cada vez melhor. Por conta da rádio e do seu rigor já tive uma dicção impecável, assim como uma boa leitura. Aprendi muito com aquela turma de andarilhos, sim, porque gente de rádio naquela época, os puros e bons, assim se achavam. Hoje, não se faz mais gente de rádio como antigamente, que fazia tudo, mas tudo mesmo, nas 24 horas do dia.

E falando em comunicação, por lidar com notícia e gostar de escrever, me formei em jornalismo em 1999 e por conta disso trabalhei em alguns veículos de comunicação em Tapera e outros eu criei. Além da Rádio Gazeta trabalhei nos jornais Integração e Integração das Cidades e criei o Última Hora e a novidade JEAcontece, jornal eletrônico que revolucionou o setor na região, e ainda os informativos da Cotrisoja e da Marasca Cereais.

Parabéns a quem proporcionou o sonho do rádio em Tapera e a quem trabalhou na Gazetinha e também a quem trabalha na Cultura. Queiram ou não uma emissora de rádio faz muita diferença em um Município, principalmente quando não havia internet e ninguém sonhava com computador e celular.

Nesta segunda-feira (31), o Marcelo Haag me convidou, assim como outras pessoas que fizeram parte desta história, para ir ao programa Realidade falar sobre os 30 anos do rádio em Tapera. Participarei dele com gosto. E quem sabe o Concorde, que está aposentado, não volte a sobrevoar Tapera e região por alguns instantes.

Parabéns, Tapera! E parabéns a nós, gente de rádio. Uma vez radialista, sempre radialista, mesmo que batendo em teclas e produzindo leitura.

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