O assassinato do Dr. Nunes
Após a criação do 8º distrito de Passo Fundo, em 1920, o “doutor” Nunes (Manoel de Oliveira Nunes) foi nomeado subintendente de Tapera. Não havia médico formado no novo distrito e o curandeiro “doutor” Nunes ficou assim conhecido porque, além dos dois cargos que exercia, receitava remédios de ervas, tisanas, fazia curativos, pequenas suturas, abria abcessos, assistia partos e outras pequenas cirurgias, mantendo, simultaneamente, ao movimentado consultório, o gabinete administrativo do distrito.
No local chamado Barra do Colorado, residia um agricultor de nome Eduardo (nome fictício), com fama de mau elemento, desordeiro e perigoso, já processado por tentativa de homicídio. Por estar continuamente perturbando a ordem pública, o “doutor” Nunes solicitou auxílio da Delegacia de Polícia de Passo Fundo, sendo enviada uma escolta de dois soldados para efetuar a prisão do transgressor da lei. Certa manhã, à frente desses dois policiais, o subdelegado seguiu à casa do referido colono, mas não o encontrou. Ficou sabendo por vizinho que o mesmo havia fugido para o mato.
Na tarde de 15 de março de 1924, num belo domingo cheio de sol de início de outono, houve eleição municipal. Concluída a votação, à tarde, seguiu para Selbach, que nesta data pertencia ao distrito de Tapera, o “doutor” Nunes acompanhado de seu filho Elpídio, dirigindo a sua baratinha amarela. Chegando lá, estacionou em frente ao salão do clube onde havia sido realizada a eleição. A missão do “doutor” e subintendente era fiscalizar o pleito e manter a ordem pública. Ao chegar, justamente no momento em que o “doutor” ia abrir a porta direita do carro, foi covardemente alvejado a bala pelo truculento bandido da Barra do Colorado. O assassino encontrava-se encostado à porta de entrada do casarão de madeira do clube, comia um pedaço de pão e salame e mantinha na mão direita um revólver, com o qual desferiu dois tiros, um dos quais atingiu a cabeça do “doutor” Nunes. O criminoso foi preso por populares e conduzido à cadeia.
Preocupado com o ferimento do pai, Elpídio voltou rapidamente ao carro onde ele se encontrava desfalecido sobre o assento, sangrando muito e articulando com dificuldade algumas palavras.
Temendo conduzi-lo neste estado de volta a Tapera, Elpídio mandou chamar com urgência o médico Avelino Steffens, que estava começando a clinicar na vila. Após um exame minucioso ele aconselhou Elpidio, já que estava de carro, a conduzir seu pai a Cruz Alta, onde trabalhava um cirurgião com prática em ferimentos e operações de crânio. Pouco depois, chegava mais uma filha e outro filho do “doutor” Nunes. Decidiram juntos que conduziriam o pai de volta a Tapera na manhã do dia seguinte, uma segunda-feira.
Durante a noite de domingo, um grupo de amigos do “doutor” tentou linchar o bandido, tendo o comissário evitado mais uma vez a consumação do ato.
Em Tapera, novamente foi atendido pelo Dr. Steffens, médico recém formado, que acabara de abrir consultório no vilarejo. Porém, nada podia fazer face à gravidade do ferimento intracraniano e suas consequências. A conselho deste médico, o paciente foi conduzido, poucos dias depois a Cruz Alta. O cirurgião do Exército, após prolongado exame, não quis intervir alegando que o doente podia morrer na mesa de cirurgia. De volta a Tapera, agravava-se cada dia mais o estado de saúde do “doutor” Nunes. Como derradeiro recurso, a família resolveu conduzi-lo a Não-Me-Toque, onde renomado médico alemão Dr. Schmidt, com larga experiência em cirurgião na Primeira Guerra Mundial, resolveu operá-lo, vindo realmente a falecer durante o ato operatório.
O “doutor” Nunes, primeiro subintendente de Tapera, acha-se sepultado no cemitério de Não-Me-Toque. Em seu jazigo está também gravado o nome do seu assassino.
Está é mais uma história do médico taperense Anildo Sarturi, que residiu em Porto Alegre, quando ainda em vida, publicou uma série delas relatando passagens acontecidas em Tapera que foram por ele testemunhadas.
A história por trás dessa reportagem daria livro e filme.
Será que não há um jornalista interessado em contá-la ?