A banda da Dionísio
Na primeira metade dos anos de 1970, a Escola Estadual Dionísio Lothário Chassot aqui de Tapera (RS) criou uma banda marcial para se apresentar nos desfiles cívicos de 7 de setembro e também nos seus eventos.
Eu e muitos meninos e meninas daqui integraram a referida banda que era coordenada pelo bancário Alonso Sampaio, que veio a Tapera para trabalhar no Banco do Brasil, e que lançou a ideia da formação da banda na escola. E quando ele foi embora, o Ari Kern assumiu a coordenação da mesma. A diretora da Dionisio era Maria Delfina Cerutti, que aparece na foto.
Lembro que nas semanas que antecediam o desfile, nós deixávamos a sala de aula para ensaiar nas ruas próximas à escola e íamos, cada qual com o seu instrumento. O meu era uma caixa. Lembro também que a criançada quando ouvia o barulho da banda ia até ela para acompanhar o ensaio. E nas casas o pessoal saia para fora para vê-la ou acompanha tudo pela janela.
E nós passávamos a semana que antecedia o desfile olhando para o céu, pois não se tinha previsão do tempo como se tem hoje em dia, para ver se ia chover ou não, pois todos queriam o desfile e poder se apresentar para o público que tomava conta da Rua Rui Barbosa, onde ficava o Altar da Pátria, em frente à Igreja Matriz.
Na banda, calçávamos tênis e calça brancos e uma jaqueta vermelha com listas brancas. O uniforme era bonito, diga-se de passagem, e nós nos orgulhávamos de integrá-la.
Das muitas histórias da banda, uma é inesquecível. Certa vez, num dos desfiles cujo ano não lembro, choveu à noite. Como amanheceu com tempo limpo o desfile foi mantido e, como poucos tinham telefone fixo em casa e não havia celular, nem internet, foi um deus nos acuda para saber se o desfile sairia ou não. E ele saiu para a nossa alegria. Uniformizados e apostos, nós nos posicionamos na casa dos Marasca, que ficava ali na esquina próxima ao Santa Clara, para começar o desfile. E quando o Alonso soou o apito o grupo da frente, dos bumbos, deu aquelas três batidas fortes em seus instrumentos, a adrenalina subiu e lá fomos invadindo a Rui Barbosa com gente espalhada dos dois lados até o Hospital. Como havia chovido, o calçamento estava molhado, nossos tênis e calças brancos mudaram de cor devido à lama, para desespero de nossas mães, mas não nos importamos e fizemos a nossa apresentação indo e vindo pela rua. Depois de uma bela performance, como prêmio, fomos de ônibus almoçar lá no Restaurante Florestal, atual da Mata, na ERS 223.
Na imagem, captada de uma foto, tem muita gente que ainda está por aí, em Tapera, pelo Estado e País, e outros ainda, infelizmente, não estão mais entre nós.
A Banda Marcial Alonso Sampaio marcou a sua história em Tapera, com toda certeza. E dela ainda lembro das marchas que tocávamos, em especial de uma que era parecida com a trilha sonora de um seriado que passava na Globo: “Guerra, Sombra e Água Fresca”. Uma comédia muito engraçada sobre a II Guerra Mundial.
Agora, que saudades daqueles desfiles cívicos de 7 de setembro aqui em Tapera. A Rui Barbosa recebia quatro linhas de cal branco que iam da esquina do Santa Clara até o Hospital e, ao longo dela, dos dois lados, o pessoal se acomodava para ver o desfile das escolas da cidade e do interior e das entidades diversas do município, sem falar da reunião de autoridades no altar da pátria que ficava em frente à Igreja Matriz. Hoje, a coisa é vista como um “mico”, ultrapassada, mas aquilo era demonstração de civismo algo que faz muita falta hoje em dia.
Cara, eu lembro muito bem dessa época. Eu era criança e sempre sonhei em tocar nessa banda. Aí, quando chegou a minha vez, os caras cancelaram a banda marcial. Isso daí ficou faltando na minha vida.
Parabéns pelo resgate, Sarico.