A fábrica de implementos do Mansueto
O agronegócio é a máquina que empurra o Brasil e isso não se discute. Pois, quando todos falam em produção agrícola, em produção de alimentos, eu lembro que Tapera teve uma fábrica de implementos agrícolas quando a agricultura ainda engatinhava no País: a Mansueto Corazza & Cia Ltda.
Num dia desses, em um dos grupos de WhatsApp, alguém postou uma foto da empresa, tendo um caminhão na frente de sua sede carregando um dos implementos produzidos por ela, o que atiçou o meu faro jornalístico e de historiador.
Pois, fui atrás do empresário Álvaro Corazza, filho do Mansueto e que trabalhou na empresa da família, que me deu informações preciosas sobre a empresa e o momento econômico daquela época.
A empresa, que funcionou de 1970 a 1990, ficava na esquina da Avenida XV de Novembro com a Rua Marechal Floriano, onde estão hoje o CISO e o Hotel Walença.
Segundo o Álvaro, a empresa produzia quatro tipos de implementos: plantadeira de milho, pé-de-pato, pé-de-boi e escarificador.
A plantadeira de milho era vendida para todo o Rio Grande do Sul e até para fora do Estado. Já o pé-de-pato, com distribuidor de adubo para plantar batatas, vendia bem na região de Santa Maria, no Centro do RS.
A Mansueto Corazza & Cia Ltda produzia de 5 a 8 implementos por mês com 12 funcionários entre indústria, oficina mecânica e tornearia.
Naquele tempo, havia dificuldades para se produzir, por que não existiam peças de reposição na região e muitas delas precisavam ser fabricadas pela própria empresa, sem falar que a matéria-prima, o ferro, era difícil de ser obtida, muito cara e demorava para chegar pois não havia transporte para pouca coisa.
O Álvaro lembrou que inúmeras vezes eles pegaram o ônibus, o Ouro&Prata, de madrugada para ir a Porto Alegre comprar peças e voltar à noite, com algumas, pois não dava para se comprar todas em função dos preços.
Devido a estes valores, quando de comprava ferro, se comprava em barras que era mais em conta do que uma chapa e quando se precisava cortar era uma dificuldade para se encontrar os tamanhos necessitados porque não dava para perder o material. Não podia sobrar nem ser descartado.
Outro ponto interessante destacado pelo empresário era o modo como se negociava na época, bem diferente de hoje em dia. Naquele tempo o pessoal ia mais atrás de preço do que qualidade e durabilidade.
Pedi a ele ainda, por que a sua família não continuou com a fábrica e ele me disse que não foi possível devido à economia, que oscilava muito e que forçou muitas empresas pequenas a fechar as suas portas. Quem passou por aquele período conturbado está aí hoje produzindo essas máquinas maravilhosas para a produção agrícola no Brasil e no mundo.
Além da fábrica, o Mansueto Corazza tinha uma oficina mecânica, que funcionou nos anos 1960 a 1990, e a churrascaria, que ele próprio comandava, tudo no mesmo endereço.
Quando eu era criança, meu serviço nos domingos de manhã, era pegar a carne e levá-la até a churrascaria para ser assada pelo próprio Mansueto. E quando ia buscar ficava degustando os pedaços de carne que ele cortava sobre um cepo grande de madeira que havia próxima a ela. Ainda sinto o cheiro do tempero que ele preparava numa gamela grande.
E tem mais. O Mansueto, juntamente com sua esposa Adacir, foi por muitos anos o Rei Momo do Carnaval do Clube Aliança de Tapera, um dos maiores e melhores da região.
A título de informação. Tapera, ao longo de sua história de mais de 126 anos de existência e 68 como município, teve ainda outras duas fábricas de implementos agrícolas, sendo que uma delas está prestes a completar 100 anos. Suas histórias eu contarei em outra oportunidade.

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