Blog do Sarico

Acabou o primeiro round


E o primeiro turno das eleições acabou neste domingo (02). A partir de agora, saem do “ringue” os candidatos ao Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas, para prosseguir, na disputa, os candidatos a Presidente e a Governador.

E esta eleição foi diferenciada das demais, exatamente pelos dois principais protagonistas, que agora se enfrentam diretamente no “ringue”, reforçando o cenário de polarização política no Brasil, demonstrando, ainda, que a luta está dividida, basicamente, entre classes sociais e pautas morais: o atual presidente, com o seu posicionamento conservador, nacionalista e “pavio curto”, e o ex-presidente que foi preso por corrupção e que, agora, busca resgatar, do eleitor, as memórias de seus oito anos de governo marcados por políticas assistencialistas.

O fato é que o grande vitorioso deste primeiro round foi Bolsonaro, por ter eleito a maioria dos governadores e dos senadores, sem falar que superou o resultado das pesquisas, pois a pontuação real do candidato ficou bastante acima do indicado: 43,21%, sete pontos percentuais acima do Datafolha e seis do Ipec.

Mas, ainda assim, a vantagem de Lula, de 5%, em relação a Bolsonaro – o que estava previsto pelas pesquisas, mas não dessa forma – gerou indignação por parte dos bolsonaristas, que lamentam o fato de o petista ainda “ter vez”, mesmo após todos os escândalos nos quais ele esteve envolvido. Por outro lado, os eleitores de Lula estão esperançosos com a sua vitória no segundo turno, contando com a migração dos votos de Ciro – que está morto politicamente, depois dessa eleição – e de Tebet, que fez uma boa campanha, se mantendo em terceiro na disputa – quem eu acredito que sinalizará apoio ao petista.

– SOBRE AS PESQUISAS:

E, por falar em pesquisa: metodologicamente, não é possível falar em erros e acertos dos institutos, até porque, dessa vez, não houve a realização de pesquisas de boca de urna no dia da votação, já que os últimos levantamentos capturaram somente a situação de quinta-feira e sábado. E os contratempos na apuração de estados-chave deixaram muita gente pensando que elas fizeram falta. Mas, ainda assim, as divergências são bastante significativas e mostram uma dificuldade, por parte das pesquisas, em estimar o tamanho real do eleitorado bolsonarista, por exemplo.

Contudo, uma coisa é certa: as pesquisas, especialmente, dos institutos mais tradicionais, são ferramentas importantíssimas para a análise do cenário político (e, também, para orientar o eleitor, porque ainda existem pessoas que têm aquela ideia de votar em quem está na frente, para não dizer que jogou voto fora). Mas, tendo em vista todos os desencontros que ocorreram neste domingo, ficou evidente que as metodologias das pesquisas precisam ser reavaliadas, para não frustrar as expectativas dos eleitores e dos próprios partidos.

– SOBRE A ELEIÇÃO NO RS:

As pesquisas apontavam que a eleição para o Senado estava entre Olívio (PT) e Ana Amélia (PSD). Entretanto, a vitória de Mourão (Republicanos) não foi uma surpresa, especialmente, após a renúncia da Comandante Nádia (PP) – que dividia o eleitorado bolsonarista, assim como o dividiu entre Onyx (PL) e Heinze (PP). Ou seja, a desistência da candidata progressista à disputa da única vaga para o senado gaúcho foi uma estratégia para evitar a eleição do candidato petista, demonstrando que o anti-petismo segue forte aqui no estado.

E mais: o candidato Heinze foi “sacrificado”, para que os votos do PP migrassem para Onyx (PL), de modo a evitar que Eduardo Leite fosse para o segundo turno – o que quase funcionou. E, inclusive, o tucano gaúcho decepcionou nos resultados, ficando bem abaixo do que as pesquisas estimavam, obtendo uma diferença de apenas dois mil votos em relação ao candidato Edegar Pretto (PT). Diferença, essa, que, normalmente, ocorre no âmbito de eleições municipais de cidades médias.

O fato é que, nesta eleição, o PP adotou a máxima: “perdem-se os anéis, mas não os dedos”. E, certamente, essas duas jogadas do partido gerarão consequências, pois ninguém gosta de ser “queimado”. Aliás, com esta eleição, lá se vão 40 anos que o PP não elege um governador, tendo sido, o último, Jair Soares, lá em 1982. O que será que o partido tem que elege um montão de prefeitos, mas não consegue fazer governador?

– SOBRE OS DEBATES:

Penso que a dinâmica dos debates precisa mudar, para que eles sejam mais proveitosos, com mais troca de ideias e de propostas e menos ataques e ofensas. O que se viu no debate da Globo, na última quinta-feira (29), foi um show de horrores, pois os candidatos, sequer, estavam seguindo as regras estipuladas pela emissora, para o bom andamento dos trabalhos.

Por isso, o ideal é que a lei eleitoral seja modificada nesse sentido, para que participem dos debates apenas os candidatos com melhor pontuação nas pesquisas – e não, obrigatoriamente, candidatos de partidos com, ao menos, 5 representantes na Câmara, como se dá atualmente.

– SOBRE O DIA DA ELEIÇÃO E AS ABSTENÇÕES:

Outro ponto que chamou atenção foram as abstenções: mais de 20% dos eleitores não foram às urnas. E, pensando bem, isso poderia ter decidido a eleição já no primeiro turno. Agora, espera-se que este percentual não se repita no segundo e que as pessoas cumpram o seu dever, enquanto cidadãos, de manifestar a sua posição política nas urnas.

No mais, felizmente, a eleição transcorreu de forma tranquila e pacífica em todo o Brasil, ao contrário do que se pensava, levando em consideração o clima de medo e de tensão que pairava no ar. E, até mesmo, pela dificuldade de se dialogar com pessoas de lados diferentes, sem ser desrespeitado ou hostilizado, conforme se viu, durante a campanha.

O maior problema, entretanto, foram as filas e a demora na votação, principalmente, em razão da biometria. E, aqui em Tapera, com a retirada das seções eleitorais do Clube Aliança, que foram remanejadas para o Tenarião, achei que a situação ficou um pouco complicada, pois concentrou muitas pessoas em um único espaço, testando a paciência dos eleitores – e dos mesários, que, se duvidar, não tiveram nem tempo para almoçar. Eu mesmo fiquei 48 minutos na fila.

E, a título de conhecimento, dos cidadãos taperenses, 3.382 pessoas votaram em Bolsonaro (51,43% dos votos) e 2.783 pessoas votaram em Lula (42, 32% dos votos).

– FINAL:

Por fim, diante da votação apertada entre Lula e Bolsonaro, fica evidente algo que eu vinha comentando desde o início da eleição: o anti-petismo é muito forte na sociedade, mas, ao mesmo tempo, existe uma grande parcela da população que desaprova os feitos do atual presidente, estando descontentes com a situação atual do Brasil (fome, desemprego, alta dos preços) e, portanto, anseia por mudança.

Definitivamente, por várias razões, essa é a eleição em que cada um dos lados do eleitorado votará para derrotar o outro – e não por confiar nas propostas apresentadas pelos candidatos.

A partir de agora, cada um deles irá iniciar as articulações políticas em busca de apoio e, com certeza, o horário eleitoral servirá apenas como palco de ataques e de mentiras.

Enfim, que venha o segundo round, no dia 30, e que vença o menos pior.



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