Blog do Sarico

Corpos reais


Você já parou para observar que, na televisão e nas publicidades em geral, dificilmente, aparecem pessoas gordas?

É incrível como tudo é voltado para o público magro, como se ele representasse a maioria da população brasileira. Dentro desta perspectiva, também destaco, por exemplo, que são raras as lojas de roupas que comercializam tamanhos grandes (provavelmente, porque devem ser poucas as fábricas que atendem o segmento plus size).

Com certeza, tudo isso é reflexo da ditadura da beleza, que prega que os corpos devem ser “perfeitos”, esbeltos, sem estrias e celulites (e isso, obviamente, afeta e preocupa muito mais as mulheres do que os homens).

Mas, quem inventou esse padrão de “perfeição”? Porque só os corpos magros, atualmente, são considerados bonitos? E o que é beleza, afinal? Acho que é um conceito muito abstrato e relativo, até porque “gosto não se discute”…

É sempre bom lembrar que os padrões de beleza variaram muito, com o passar dos séculos. Fazendo uma busca, na internet, sobre essa questão, dá para constatar que, desde o Egito Antigo, houveram muitas mudanças nessa questão e, nem sempre, o biotipo magro foi considerado o padrão “ideal”.

Hoje, as redes sociais – por meio das ferramentas de edição de imagem e dos “filtros” nas fotos, que mudam as feições das pessoas e acabam escondendo as suas “imperfeições – acabam reforçando um padrão de beleza praticamente inatingível às pessoas. Especialmente, os influenciadores digitais, mesmo que de forma indireta, incitam os seus seguidores a recorrerem a diversos procedimentos estéticos e cirúrgicos, para atingir os padrões de moda vigentes. Com isso, além de todos os riscos gerados à saúde, existe uma constatação muito curiosa a ser feita: as pessoas estão ficando iguais, com as mesmas feições, praticamente, perdendo os seus traços, as suas peculiaridades e a sua identidade.

Não estou condenando quem adere a esses “mecanismos de beleza”, pois penso que cada um sabe o que é melhor para si e para o seu bem-estar. Acho que, nesta questão, deve prevalecer a responsabilidade individual, o bom senso e a moderação. Por isso, antes de embarcar em algum procedimento estético ou cirúrgico ou de aderir a um produto “milagroso”, que promete ser a fonte da beleza e da juventude, deveria ser questionado: eu, realmente, preciso disso? No que isso vai mudar a minha vida? Quais riscos estou correndo?

Por fim, voltando à questão dos corpos gordos, entendo que é necessário que, assim como as estrias, as celulites, a flacidez, as olheiras e as rugas, eles sejam normalizados e aceitos, porque são uma realidade de inúmeros brasileiros. E, mais do que isso, todas essas características são naturais do ser humano – algumas em menor, outras em maior intensidade – adquiridas hereditariamente ou por meio do tempo de vida, por fatores internos e externos.

Ainda dentro desta perspectiva, contudo, não posso deixar de pontuar que a obesidade mórbida é uma doença e que, portanto, deve ser tratada – normalmente, por meio de cirurgia bariátrica – a fim de proporcionar mais saúde e uma melhor qualidade de vida ao indivíduo.

Fora isso, penso que a sociedade como um todo precisa passar a aceitar e respeitar as pessoas gordas. E estas, por sua vez, não precisam ter vergonha de suas características físicas, devendo continuar a combater todos os estigmas e preconceitos com os quais convivem e a cobrar uma mudança de mentalidade de todos, sobretudo, uma maior inclusão da moda plus size no mercado.



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