Blog do Sarico

30 anos de um tiroteio


Ontem, 01/03, completou 30 anos de uma ação policial, a maior que já se viu aqui no Alto Jacuí, região norte do Rio Grande do Sul, quando as policias Militar, Civil e Rodoviária Estadual de toda a região perseguiram, trocaram tiros e prenderam a maioria dos integrantes de uma das quadrilhas mais perigosas de assalto a bancos do Estado, quando estes eram o “filé mignon” dos bandidos por estas bandas.

Vinha eu, de Selbach, por volta de 07h, pela ERS 223, com a unidade móvel da então Rádio Gazeta de Tapera, um Gol quadrado branco, e em frente à CVale, antiga Marasca Cereais, dois PMs, de arma em punho, me pararam e pediram se não tinha visto alguém suspeito caminhando pela rodovia. Respondi que não e pedi o que estava havendo. Eles me disse que uma quadrilha de Porto Alegre havia invadido uma casa, no bairro Progresso, aqui em Tapera (RS), para roubar o carro da família para fugir, após uma ação errada na região, e acabou surpreendida por uma guarnição da BM, teria havido troca de tiros e que teriam fugido com o carro. Pedi ainda onde estavam concentradas as buscas e eles me disseram que era no mato do antigo Curtume Mombelli, na Vila Raspa, na ERS 332, em direção a Espumoso. Peguei o Gol e fui direto para lá. Quando cheguei no local vi um montão de soldados e policiais armados fazendo uma varredura na área. E havia muito mais pela redondeza pois a polícia estava disposta a prender os cinco elementos, todos com extensa ficha criminal, de alta periculosidade e com muitos anos de prisão a serem cumpridos.

Na entrada do mato encontrei um tenente que me colocou ao par do que estava acontecendo e quais seriam os próximos passos da ação. Fiquei boa parte do tempo transmitindo tudo ao vivo. E pude ver a coragem dos policiais, portando revólveres .38 e alguns com fuzis da Segunda Guerra Mundial, contra pistolas automáticas, com grande poder de fogo, e farta munição dos bandidos. A polícia levava vantagem apenas no número de homens, por que no armamento e na munição…

Aquilo foi o dia todo e a polícia conseguiu prender os quatro elementos, sendo que o chefe era um dos homens mais procurados pela polícia gaúcha naquele tempo. Eu vi os quatro na DP taperense.

Da ação lembro de duas passagens que me marcaram. Uma diz respeito ao hoje sargento Barbosa, que deu voz de prisão a um dos homens, pois o cara se virou e ao tentar atirar com sua pistola, o Barbosa, de arma em punho, mais rápido, atirou contra ele três vezes e todas três falharam. Aí o sujeito, já em fuga, disparou contra o PM, que felizmente o tiro raspou sua cabeça. Eu não vi a cena, mas ela foi contada depois, na DP, pelos colegas do Barbosa que viram tudo. Alguns dias depois alguém, sem se identificar, ligou para a rádio e me fez uma série de perguntas sobre o fato. Acho que era do alto comando da BM, e nunca mais se falou sobre o assunto.

A outra foi na DP taperense, quando um dos presos disse que o “velhinho” que estava lá na frente estava na mira de sua pistola e que poderia tê-lo “apagado”, se quisesse. O “velhinho” em questão era o falecido inspetor Nelson Edi da Silva, que estava sobre ele e não o viu, pois o bandido estava em uma valeta tapado por folhas de coqueiro. Depois alguém pediu a ele por que não atirou no policial e o mesmo respondeu: “Com toda essa polícia junta? Eu sou vagabundo, mas não sou louco”.

Alguns dias fui chamado no Fórum para reconhecer os quatro presos e, ao entrar na sala de audiências, dei de cara com o chefe da quadrilha, algemado e bem escoltado, que olhou para mim e sorriu. Eu, num amarelo desesperador, devolvi o sorriso. Aí o juiz pediu-me que identificasse os presos e quem era o líder do grupo e pediu que me virasse para reconhece-los. Ao fazê-lo, novamente dei de cara com o chefão, que, novamente sorriu para mim. Acho que ele simpatizou comigo. Eu gelei naquele momento. Mas, confirmei: “É o de camisa da Adidas, branca”. E fui dispensado.

Parece brincadeira, mas faz 30 anos desta passagem que eu testemunhei. Quando escrever o meu livro de vida, com toda certeza, este episódio estará junto, quando um repórter, que iniciava suas atividades no rádio, cumpriu papel de correspondente de guerra e saiu-se dele com louvor. Como a nossa polícia.



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