Blog do Sarico

Sons da infância


Sons da minha infância 1Dias atrás fui acordado com o apito do antigo Curtume. Sentei na cama e comecei a pensar, tentando me localizar. Passou um tempo até lembrar que não temos mais o curtume em Tapera e muito menos seu apito.

O apito do antigo Curtume Mombelli pautou o dia a dia dos taperenses por décadas e décadas. Eu mesmo, quando menino, me baseava nele para ir à escola e voltar para casa. À tarde, acontecia a mesma coisa. Tapera era coordenada pelo apito que, todos achavam sair do grande chaminé da empresa, o que não era verdade. Isso eu soube bem mais tarde.

O apito era tocado quatro vezes por dia. Pela manhã às 07h15min e 11h45min e à tarde, às 13h15min e 17h45min, de segunda a sábado, até o meio dia.

Gostaria de saber quem foi ou foram os responsáveis por puxar a cordinha que acionava o apito ou o botão. Quem será que foi a pessoa que, como diz um amigo, mal sabia da responsabilidade que carregava nos ombros ao apenas apitar diariamente.

Este mesmo amigo me contou que, quando sua irmã foi estudar em Passo Fundo, na primeira semana ela ficava esperando o apito do Curtume tocar. Uma amiga, que estudou em Porto Alegre, me contou que várias vezes foi acordada pelo apito do curtume.

E junto com o apito da empresa havia ainda em Tapera o badalo dos sinos da Igreja matriz, nas horas cheias, com o número da hora – 10 horas, 10 batidas, por exemplo, e uma batida seca nas horas quebradas – 30 minutos. À noite também tocavam os sinos. Em qualquer lugar da cidade se sabia a hora. E quem não tinha relógio bastava ir para fora e conferi-la nos relógios iluminados das duas torres.

O Curtume alertava para o início e o fim da manhã e da tarde e a Igreja orientava os taperenses durante o dia e a noite.

Hoje, não temos mais os sons do passado: o apito do Curtume e os badalos da Igreja. Hoje, nossos sons são ronco de motores apressados, buzinas, freadas, arrancadas, foguetes e… latido de cachorro. Ninguém merece.



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