Blog do Sarico

Simplesmente Tecla


Tecla 7Esta semana, nossa família, que enfrenta uma crise de saúde, teve um baque inesperado com o céu caindo literalmente sobre nossas cabeças por conta do falecimento prematuro de nossa mãe, Tecla, aos 81 anos.

As gerações mais novas não sabem quem foi a Dona Tecla, nem o que ela fazia e fez. Ela vendia produtos Avon desde 1966, há 47 anos. E até os 80 anos andava de motoneta, por toda a cidade.

Começou vendendo Avon a pé, indo de casa em casa. Com o passar dos anos, Tapera foi crescendo e novos clientes ela ia fazendo, comprou um bicicleta para continuar a atender seus amigos-clientes. Mais tarde, com a cidade continuando a crescer, comprou uma motoneta. Com ela foi até quando deu para andar. Quando a moto começou a ficar “pesada” ela achou que estava na hora de parar com ela. E parou.

A Dona Tecla vendeu Avon para quatro gerações. Aqui em Tapera tem uma família que ela vendeu seus produtos para sua amiga, filha, neta e bisneta. Até esses dias ela vendeu perfume para elas.

Pode não parecer nada isso ai, mas como disse uma amiga de nossa família, no velório da Tecla, que mora fora do Estado, a Tecla ajudou a embelezar as mulheres de Tapera quando sua vaidade não era como agora. O que as mulheres de hoje conquistaram e avançaram, tem muito a ver com a Dona Tecla e os seus perfumes e cosméticos nos anos 70 e 80. Isso me foi dito por ela e me comoveu, pois não sabia disso.

Nos anos 90, Dona Tecla, na época do Natal, se fantasiava de Papai Noel e saia pelas ruas pedalando e depois motorizada, levando alegria às crianças que a seguiam em bom número. Com uma sacola ela distribuía balas, acenos e alegria por onde passava. Trocava chupetas ou “bicos” por balas. Até a algum tempo ela tinha um saco e nos mostrou. Tinha mais de 200 bicos que foram entregues a ela ao longo dos anos de quem hoje é pai e mãe e que lembram dos “batonzinhos” que ela entregava às meninas. Aqueles batons e perfumes de amostras, ao invés de serem dado às mães, a maioria ia para suas filhas que ficavam extasiadas quando ganhavam um ou outro.

Nossa mãe também organizava excursões com amigos a Aparecida do Norte (SP) para visitar a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, de quem era devota. Ela organizava tudo e era uma festa aquelas viagens em busca de graça. Hoje, ela não precisa mais ir até lá para pedir por sua amiga. Hoje, ela está ao seu lado, conversando e rindo, duas coisas que gostava de fazer.

Nossa mãe era fora de série na cozinha. Doces e salgados era com ela. Tem alguns pratos italianos que eram uma gostosura. Davam um trabalhão para fazer, mas ela fazia com gosto só para ouvir os elogios que viriam depois. E eles sempre vinham. Tomara que a Pillar, sua neta e minha filha, que gosta de culinária, assuma o comando destes pratos. A família adoraria.

Onde tinha música e alegria, Dona Tecla estava no meio. Não gostava de tristeza e baixo astral. Isso ela vivia dizendo. “A vida é bela e curta, assim vamos aproveitá-la”, dizia.

Guerreira, sempre se virou sozinha e não gostaria de ser dependente na velhice. Isso para ela seria seu fim. Talvez por isso tenha ido cedo.

Jamais ouvi ela dizer que estava cansada. Ela sempre estava pronta para qualquer coisa. Se pediam algo para ela, fazia com gosto. Gostava das amigas e tinha hora e dia certos para visita-las.

Na Páscoa ela escondia os ninhos dos filhos e depois dos netos para que os encontrassem. Era uma festa aquilo. Os ninhos eram fantásticos  No Natal e Ano Novo, família reunida, muita comida e bebida e muita alegria. Aquilo eram festas maravilhosas.

Na missa, o padre Osório falou sobre as pessoas que vem ao mundo para melhorá-lo. Com toda certeza, nossa mãe foi uma dessas pessoas que deu sua contribuição para deixá-lo melhor, pela alegria e simpatia. Pode ter sido uma gota num oceano, mas ela fez a sua parte. Tinha defeitos, como qualquer pessoa normal, mas as suas virtudes eram bem maiores.

Não tenho uma queixa de nossa mãe em razão do que ela foi e fez e pelo que nos ensinou. Ela foi muito mais uma amiga do que mãe. Eu perdi uma amigona e uma parceira de conversa e de risada. Com sua partida abriu-se um vazio que não será ocupado nunca mais, mas que será preservado para lembrar de quem ela foi e o que fez.

Vá em paz Tecla da Avon, da “Bici” (bicicleta), da “Motinho”, das Viagens ou quem quer que seja. Fizeste a tua parte, mãe adorada, e fez tudo muito bem. Foste sensacional e jamais será esquecida por todos nós. Muito obrigado por tudo, Tecla. Sempre te amaremos. Descanse em paz aí em cima, ao lado de tua amiga celeste, a quem sempre pediu e foi atendida.

Tecla, saudade eterna. Muita dor.



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